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25/04/2025
Realizadores audiovisuais dos interiores reivindicam aumento do orçamento da Cultura e ampliação de salas de cinema
Temas foram discutidos em mesa sobre a interiorização de políticas culturais, no 2º Fórum Audiovisual dos Interiores da Bahia, em Ipiaú. Encontro teve participação de representantes da Ancine, Funceb e MinC.
“Cadê o orçamento público para a Cultura?”. Foi com essa pergunta que Gláucia Solaris, cineasta de Rio de Contas, município com pouco mais de 13 mil habitantes, fez ecoar sua voz no quinto dia do 2º Fórum Audiovisual dos Interiores da Bahia. A indagação deu o tom para a discussão da mesa “Interiorização das Políticas Públicas Culturais do Audiovisual”, que aconteceu no Complexo Poliesportivo e Cultural de Ipiaú, na quinta-feira, 24.
“São R$ 4 bilhões previstos para o orçamento do MinC em 2025. Isso não é nem 1% [do orçamento total da União]. Se fosse, seriam R$59 bilhões. No estado da Bahia, a Secretaria de Cultura não lança um editorial setorial desde 2019. Nós precisamos de recursos”, disse Gláucia. O relato da artista foi um entre muitos que destacou a dificuldade de acesso a recursos públicos que afeta agentes do setor audiovisual nos interiores do país.
Outros dados apresentados durante o debate corroboram com a realidade de Gláucia e de outros realizadores atuantes nos interiores. Um levantamento feito pela Articulação Audiovisual dos Interiores da Bahia (AVIBA) aponta que das 407 produtoras registradas na Ancine, apenas 102 estão no interior. Além disso, a Bahia conta com 141 salas de cinema em funcionamento, instaladas em somente 23 municípios (15,5%).
Com o intuito de discutir o que pode ser aprimorado para fortalecer o audiovisual nos interiores, o Fórum reuniu Paulo Alcoforado, diretor da Agência Nacional do Cinema (Ancine); Sara Prado, presidente da Fundação Cultural do Estado da Bahia (Funceb); Thayse Limeira, representante da Secretaria Nacional do Audiovisual do Ministério da Cultura (SaV/MinC); e Adélia Pinheiro, ex-secretária de Educação do Estado da Bahia. Os convidados estiveram em Ipiaú para dialogar e ouvir sobre os obstáculos enfrentados por produtores e exibidores em diferentes regiões da Bahia.
Sobre o orçamento para o setor cultural no estado, Sara Prado explicou que avanços vêm sendo alcançados ao longo dos anos. “Existe o investimento. 1,5% é de fato o que nós desejamos. Isso é pauta nacional. O que queremos é 1% dos orçamentos dos municípios para o segmento, 1,5% do estado e 2% da União. É uma busca coletiva. É importante dizer também que se a sociedade civil não se organiza, certamente não teremos esse cenário. Por isso agradeço todas as vezes que isso é colocado”, disse.
A mesa “Interiorização das Políticas Públicas Culturais do Audiovisual” aconteceu no Complexo Poliesportivo e Cultural de Ipiaú, na quinta-feira, 24 de abril. Foto: Anderson Costa Santos.
Além do orçamento, outro tema foi destaque durante o debate na quinta-feira, 24. Foi colocada em pauta a ausência de salas de cinema em mais da metade do Estado da Bahia e como isso afeta o escoamento das produções locais. Os municípios dos interiores são os mais atingidos pela falta desses espaços de distribuição e difusão da sétima arte.
“A gente precisa de mecanismos para que os filmes do interior baiano e das produtoras e distribuidoras baianas cheguem nas salas comerciais de cinema”, apontou Daniel Leite Almeida, presidente da Associação do Setor Audiovisual do Sudoeste Baiano (Sasb).
Produtor executivo do fórum e diretor de projetos da Voo Audiovisual, Edson Bastos percebe um avanço na distribuição de recursos para o interior, mas acredita que ainda há o que conquistar. “Antes tínhamos 20% para o interior, agora estamos chegando em 70% na Política Nacional Aldir Blanc (PNAB). Mas continuamos em disputa porque precisamos de mais. Por exemplo, o que a gente precisa fazer para ter um cinema em Ipiaú?”, questionou.
Cineclubes, mostras e festivais como espaços de resistência
Diante da ausência de salas de cinema nos interiores e da dificuldade de produções locais ocuparem essas plataformas de exibição, os cineclubes, mostras e festivais são circuitos de difusão possíveis. No Fórum AVI, as potencialidades e os desafios desses espaços foram debatidos em uma mesa que ocorreu na tarde desta quarta-feira, 24.
A discussão contou com a presença de Daiane Silva, da Diretoria Audiovisual da Fundação Cultural do Estado da Bahia (DIMAS/Secult-BA); Leandro Alves, do Núcleo Audiovisual de Arapiraca (NAVI); Cláudio Lyrio, do Cineclube Mocamba; e mediação de Wilmar Ferraz, coordenador geral do Festival de Cinema Ambiental de Iraquara (FASAI).
A segunda mesa do dia 24 de abril debateu as potencialidades e os desafios de cineclubes, mostras e festivais. Foto: Anderson Costa Santos.
Daiane Silva destacou a aplicação de recursos públicos nos cineclubes por meio dos editais da Lei Paulo Gustavo Bahia e da PNAB. Já Leandro apresentou no Fórum sua experiência no Núcleo Audiovisual de Arapiraca, em Alagoas, que surgiu como Ponto de Cultura em 2016. Primeiro, o grupo iniciou a oferta de cursos e atividades formativas, depois, partiu para a realização de mostras e festivais de cinema.
Cláudio Lyrio destacou o papel dos cineclubes na distribuição de filmes, na formação de público e no fortalecimento de identidades culturais. “O cineclube faz parte da cadeia produtiva do audiovisual. Mas, na hora da divisão do bolo, ele sempre fica com a menor parte. Avançamos? Sim. Temos editais para cineclubes? Temos. Mas é preciso que a gente pare pra pensar se isso está ocorrendo da melhor maneira”, ressaltou.
Sobre o Fórum Audiovisual dos Interiores da Bahia
O 2º Fórum Audiovisual dos Interiores da Bahia é uma realização da Associação do Setor Audiovisual do Sudoeste Baiano (Sasb) e conta com a produção da Voo Audiovisual. O evento tem como anfitrião nesta edição o 4º Circuito Cine Éden, mostra de cinema que também é realizada de 20 a 26 de abril, em Ipiaú.
Confira a programação completa: https://forumavi.com.br/programacao-completa/
Assista os debates do 2º Fórum AVI: https://www.youtube.com/@forum-avi/streams
O projeto foi contemplado nos Editais da Paulo Gustavo Bahia e tem apoio financeiro do Governo do Estado da Bahia através da Secretaria de Cultura via Lei Paulo Gustavo, direcionada pelo Ministério da Cultura, Governo Federal. Paulo Gustavo Bahia (PGBA) foi criada para a efetivação das ações emergenciais de apoio ao setor cultural, visando cumprir a Lei Complementar nº 195, de 8 de julho de 2022.