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24/04/2025
Fórum AVI debate descentralização de recursos e oportunidades para o cinema nos interiores
Na Bahia, 63,7% dos agentes econômicos com registro na Agência Nacional do Cinema (Ancine) estão concentrados na capital. Em Ipiaú, representantes do setor discutiram os impactos do audiovisual no desenvolvimento dos interiores.
O cinema brasileiro, além de uma forma de arte, é uma indústria que gera empregos e movimenta a economia. Nos interiores do país, realizadores, produtoras e demais agentes do mercado audiovisual resistem apesar da histórica concentração de recursos nos grandes centros. Em Ipiaú, no 2º Fórum Audiovisual dos Interiores da Bahia, o debate colocou em foco a necessidade de descentralização das oportunidades e a criação de mecanismos para ampliar a produção, distribuição e exibição de obras dos interiores.
Na Bahia, 63,7% dos agentes do audiovisual com registro na Agência Nacional do Cinema (Ancine) estão concentrados na capital. A informação foi apresentada por Marcelo Ikeda, professor do curso de Cinema da Universidade Federal do Ceará (UFC), durante a primeira mesa temática que compõe a programação do fórum. “Isso mostra um grande desafio para o desenvolvimento do audiovisual nos interiores”, destacou o docente.
O dado é resultado preliminar de um estudo que vem sendo desenvolvido por Marcelo e outros pesquisadores sobre o mercado audiovisual da Região Nordeste. Para o professor, a predominância de agentes da capital registrados na Ancine evidencia que é preciso pensar em políticas para os interiores que levam em conta os contextos locais, com suas particularidades e desafios, que vão desde o acesso a recursos até a distribuição.
Carmen Lima, docente da Universidade do Estado da Bahia (UNEB), também apresentou no fórum dados que destacam a necessidade de descentralização da produção audiovisual no estado. “De 2010 a 2024, houve um aumento de 353% no número de empresas formais no segmento, contudo há uma concentração nítida em Salvador”, disse.
Diante desse cenário, é urgente a organização dos interiores. Para Daniel Leite Almeida, presidente da Associação do Setor Audiovisual do Sudoeste da Bahia (Sasb), o fórum é esse espaço de mobilização política. “A concentração de recursos nas capitais é histórica. O desafio é entender que o cinema, além de manifestação artística, é uma indústria que gira toda uma economia. É preciso entender que o desenvolvimento da cultura deve ser um projeto político”, ressaltou.
Caminhos possíveis
A mais de mil quilômetros de Ipiaú, na Bahia, o município de Cabaceiras, na Paraíba, é o caso de uma cidade do interior que se desenvolveu economicamente por meio da potência do setor audiovisual. Quem participou do fórum nesta quarta-feira, 23, foi Tiago Castro, ex-prefeito da cidade e um dos responsáveis pelo projeto que transformou o território.
Com uma população de pouco mais de cinco mil habitantes, Cabaceiras foi cenário de mais de 50 produções cinematográficas nos últimos 20 anos, sendo conhecida como a “Roliúde Nordestina”. Tudo começou com as gravações de “O Auto da Compadecida”, do diretor Guel Arraes, que teve como locação a cidade paraibana em 1998.
Após a visibilidade que as filmagens levaram para Cabaceiras, o município investiu em ações e políticas para preservar o patrimônio histórico da cidade e mantê-la atrativa para produtoras e empresas no ramo do audiovisual. “O audiovisual gera empregos e oportunidades. Temos hotéis que ficam lotados para dar apoio a produções. Isso muda a realidade do município e da região em torno”, contou Tiago Castro.
A mesa “O impacto do audiovisual no desenvolvimento socioeconômico dos interiores” ocorreu na quarta-feira, 23 de abril, em formato híbrido. Foto: Anderson Costa Santos.
Em outro ponto do mapa, o Polo Audiovisual da Zona da Mata, com sede no município de Cataguases, em Minas Gerais, encontrou em parcerias com fundações do terceiro setor, universidades, empresas e governos um caminho para fomentar o segmento na região. Além da realização de produções cinematográficas, a iniciativa promove formações técnicas, festivais e outras ações estratégicas para a consolidação do setor.
Para Marcelo Ikeda, professor da Universidade Federal do Ceará, as parcerias com diferentes entes da sociedade, desde governos a empresas privadas, é fundamental para o desenvolvimento do audiovisual nos interiores. “São muitas as lacunas e os desafios, então é importante a gente se organizar para cobrar e pressionar o Poder Público. Mas também não podemos esperar todas as respostas dele. A gente como sociedade civil tem que se organizar e buscar parcerias público-privadas e outros caminhos”, destacou o docente.
Sobre o Fórum Audiovisual dos Interiores da Bahia
O 2º Fórum Audiovisual dos Interiores da Bahia é uma realização da Associação do Setor Audiovisual do Sudoeste Baiano (Sasb) e conta com a produção da Voo Audiovisual. O evento tem como anfitrião nesta edição o 4º Circuito Cine Éden, mostra de cinema que também é realizada de 20 a 26 de abril, em Ipiaú.
Confira a programação completa: https://forumavi.com.br/programacao-completa/
O projeto foi contemplado nos Editais da Paulo Gustavo Bahia e tem apoio financeiro do Governo do Estado da Bahia através da Secretaria de Cultura via Lei Paulo Gustavo, direcionada pelo Ministério da Cultura, Governo Federal. Paulo Gustavo Bahia (PGBA) foi criada para a efetivação das ações emergenciais de apoio ao setor cultural, visando cumprir a Lei Complementar nº 195, de 8 de julho de 2022.